Capítulo 5.

Bethânia
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O sinal finalmente tocou e apesar de estar louca para continuar a conversar com a Natty, eu tinha que correr ao meu armário para trocar os livros.
— Que período é o seu intervalo para lanchar? — a Natty perguntou.
— No Quinto. — respondi ao caminhar em direção à porta.
— Aiiiiii! Que tudo! O meu também! Vamos sentar juntas, então!
— Combinado, nos vemos daqui a pouco.
Respirei fundo, aliviada, ao ir em direção ao segundo andar. Pelo menos vou ter a oportunidade de conversar com a Natty e entender um pouco melhor o comentário que ela fez a respeito do Mark. Consegui achar o meu armário sem me perder, abri a porta rapidamente e fiquei impressionada com a minha agilidade. Eu não queria chegar atrasada na sala de artes.

— Não acredito que já pegou a prática! Você está muito rápida! Estou orgulhoso!
"É o Mark! Meu Deus! Meu Deus!" No susto deixei o meu livro de Algebra 2 cair no chão. Fiquei parada! Sem saber se falava “oi” com ele ou se pegava o livro!
— Acorda, Bethânia!
Ainda bem que posso contar com a Bê interior que nunca falha! Abaixei rapidamente e ao pegar o livro senti o peso da mão do Mark sobre a minha. Ao olhar para cima, dei de cara com aquela piscina de água verde que me paralisou.

— Pelo visto ainda está um pouco desastrada. Ainda bem que estou aqui para te ajudar! — e lá veio aquele sorriso de provocar acidente!
Levantamos juntos, eu toda sem graça e dando um sorriso meio torto! Ele puxou o livro para perto dele e automaticamente me puxou.
— Ainda bem, não é verdade? — respondi meio que para voltar ao planeta terra e não revelar a Bê boba que já estava se apaixonando por um garoto que ela conheceu há cinco minutos atrás.
— O que seria de mim sem o meu ajudante oficial? — continuei para tentar disfarçar o climão que estava no ar.
— O que seria de você, hein? — ele puxou de novo o livro e ficamos tão perto que eu voltei a sentir aquele perfume maravilhoso, e eu jurava que dava para sentir a respiração do menino!
O sinal tocou e acabou com o clima que estava rolando entre nós.
“Não... Não... Não!”, pensei em desespero.
— Pelo visto, te ajudar está complicando para o meu lado! Você me faz perder a hora e a cabeça senhorita Bethânia! — ao terminar a frase ele passou o dedo indicador sobre o meu nariz e continuou...
— Estou atrasado, mas depois continuamos a nossa conversa. — deu uma piscadinha para mim e pronto!
Assim como ele chegou, ele saiu. Sem que eu pudesse fazer nada. Fiquei ali parada, anestesiada com aquela situação. Para o ônibus, que eu quero subir de novo, essa viagem eu não posso perder! Meu Deus, o que foi isso!

— A senhorita está atrasada! — ai que raiva! A Bê chata acaba com qualquer momento! Ahhhh, mas esse momento eu não vou deixar ela estragar não. Peguei os livros e corri para minha sala de artes, saltitante que só.
Ao chegar na sala, pedi desculpas pelo atraso, e fui logo pegando uma mesa no fundo que não adiantava muito já que as mesas formavam um retângulo ao redor da sala e todos ficavam expostos a professora que ficava caminhando no meio. Fiz o trabalho de pintura que ela pediu, mas durante toda a classe a minha cabeça repetia por várias vezes a puxada de livro que ficou marcada na minha mente. Assim que o sinal tocou, eu corri para passar na frente do armário de novo para ver se o Mark estaria por lá, mas sem sucesso! Ele não estava. Então, saí mais desesperada ainda procurando a minha sala de Álgebra 2.
Para minha surpresa, o Roberto que conheci mais cedo na sala da Senhora Kim estava na mesma sala que eu. Legal, pelo menos uma sala que eu conhecia alguém logo de primeira. Balancei a cabeça, meio que falando “oi” para ele, e ele sorriu de volta e desta vez eu sentei na segunda cadeira. Matemática é uma daquelas matérias que para me dar bem eu tenho que estudar muito! Contei os minutos até que o sinal tocou e finalmente ouvi o professor Walter nos liberar, nos desejando um bom final de semana.
Tô super feliz de ter vindo hoje, a maioria dos alunos cortam a quinta e a sexta e só vem mesmo na segunda, onde o primeiro dia "real" de aula começa. Onde já se viu começar o ano escolar na quinta?! Ainda bem que eu decidi começar o meu hoje, porque estou amando cada minuto desta sexta.

Caminhei o mais rápido que consegui em meio ao rio de alunos que trocavam de sala, queria chegar logo no armário e quem sabe encontrar o Mark mais uma vez... Mas nada! Meu coração ficou tristinho...Guardei o meu livro de Álgebra 2 e peguei dinheiro na minha bolsa para comprar o lanche. Ao chegar na cafeteria não vi a Natty, então, encostei em uma parede e tirei o celular para mandar uma mensagem para as meninas.

Bê: Meninas, que fique entre nós! Conheci um GATO hoje! Tipo ator de filme! Acho que rolou um clima! Espero não estar enganada como antes... se é que me entendem!
— Oi! — a Natty me pegou de surpresa como sempre!
— Oi, Natty — respondi ao guardar o celular no bolso.
— Vamos entrar na fila?
— Vamos, estou faminta! Só tive tempo de comer uma maçã de manhã.
Pegamos a comida e sentamos em uma mesa mais no canto, e percebi que a Natty é bem reservada.
— E aí? Viu o seu garoto de novo? — ela perguntou com um sorriso nada infantil.
— Primeiro, ele não é o MEU garoto. É só um garoto que conheci! E segundo, sim, nós somos vizinhos de armário, então, com certeza vamos nos esbarrar durante o dia.
— Hummm, fica brava não Bê, eu gosto de pegar no pé mesmo! Ainda mais quando você dá mole! — ela riu até.
— Mole? Que mole? Mas… você não está com ciúmes do senhor Mark Jones? Ou está? — perguntei logo para tirar a dúvida da minha cabeça, se ela gostava do Mark ou não.
— Credo! De jeito nenhum! Eu tenho namorado Bê! E o Mark não faz o meu tipo não! Muito “american boy” para meu gosto! Loiro, joga futebol americano e filho de um dos homens mais ricos da cidade. Eu gosto dos menos valorizados, aqueles esquecidos, entende? Estes me deixam curiosa! Eu gosto de uma causa impossível!
— Ah mais você é muito boba, Natty! —respondi ao cair na gargalhada e pude perceber em meu coração uma leve sensação de alívio.
— Boba nada, não gosto de competição não!
— Como assim? O Mark tem muita competição?
— Ah, só metade da escola! Ele é muito forte na lábia entende?
Meu coração derreteu diante do que descobri. Será que mais uma vez eu estava confundindo as coisas? Com certeza, não rolou clima nenhum e a química com o Mark só aconteceu na minha cabeça, que é mestre em confundir sentimentos. Diante do acontecido, o resto do mundo ficou meio cinza. A Natty ainda tentou me animar, depois que terminamos de lanchar ela me levou para conhecer a escola um pouco melhor.

Os próximos três períodos levaram uma eternidade para passar. Eu não via a hora de ir para casa e chorar de raiva da minha inocência. Mais uma vez! Não é possível! E agora eu ia ter que esclarecer tudo para as meninas porque eu e meu bocão royal fizemos o favor de espalhar notícia equivocada. Aff!
Passei no armário para pegar a minha mochila, porque depois da reunião eu já ia direto para o lugar que marquei com minha mãe. A última coisa que eu queria era ver o Mark, e com certeza ele estaria lá no final da última aula. Pedi para Deus para ele não estar no armário agora, e para o meu alivio ele não estava.
— Tonta, tonta, tonta! — pensei alto!!!
— Calma aí, Bê! Eu te garanto que aquele menino estava dando mole para você!
Sério! A minha vontade era de esganar a minha consciência chata, mas para a minha tristeza não tinha como. Ai que raiva! Dando mole para mim, uma ova. Eu é que penso que sou a última coca-cola do deserto e que todo garoto que me dá um olhada intensa de mais de 5 segundos tá arrastando asa para mim.
— Ah! Mas isso já foi comprovado em pesquisa que o olhar com mais de três... eu falei TRÊS segundos se for intenso tem segundas intenções. — Ai, me deixa em paz! Pelo amor de Deus! Para de colocar coisa na minha cabeça, porque eu sou obrigada a aguentar você. Ai que raiva da minha consciência que na realidade sou EU MESMA tentando bagunçar as minhas ideias. Ah, mas eu mereço.
— Com certeza, eu mereço! — falei em voz alta ao fechar a porta do meu armário com um pouco mais de força do que cogitei.
— Merece o que, hein?
“Não... não... não! Por favor não.” Pensei ao reconhecer a voz do Mark e sentir um aperto no meu coração.
— Nada, hoje não é o meu dia! Não vejo a hora de sair daqui. Agora é só enfrentar Educação Física e esquecer que o dia de hoje aconteceu.
Nem eu acreditei na sinceridade rara que saiu da minha boca!
— Mas, não é possível! Eu não devo ser tão chato assim? — Ele perguntou ao me encostar no armário.
Fiquei muda, sem reação... lutando contra os sentimentos que estavam borbulhando dentro de mim.
— Pois, o meu dia foi maravilhoso. Sabe porquê? Por que conheci você! — pronto aquele climão voltou e por mais que eu brigasse contra os meus sentimentos as minhas pernas pareciam ficar moles, e meu coração esqueceu o ritmo da vida e se perdeu na pista de dança.
— Capaz, Mark! Até parece que essa Nova Yorquina sem graça ia ser o destaque do seu dia.
Falei ao abaixar a cabeça de tanta vergonha. Como antes ele levantou o meu queixo e olhou no fundo dos meus olhos.

— Vou ser bem sincero com você, Bê, desde que eu te conheci não paro de pensar em você. E para ser sincero, a minha vontade agora é de te dar um beijo, mas estamos no corredor da escola e não quero que você entre em problema no seu primeiro dia de aula.
Me perdi... tô perdida... minha cabeça está girando... Meu coração foi lá no meu passado e reviveu uma certa promessa que eu fiz, e a minha mente lutava para entender o que o Mark acabou de me falar.
— Bê… respira! Bê! Respira linda! — a voz preocupada do Mark me trouxe de volta à realidade e me tirou da minha briga interior.
— Delsculpa! — respondi bem baixinho ao voltar a minha atenção ao olhar intenso do Mark. — Você me pegou de surpresa... — minha voz saiu quase rasgando a minha garganta.
— Não Bê, me desculpa você! Eu que não sei o que está acontecendo comigo. Vamos para aula, já não tem mais ninguém no corredor.
Foi aí que me dei conta que o corredor estava vazio. Meu Deus! Tô mais do que atrasada! Como se estivesse no meu rosto a minha preocupação, e o Mark tentou me acalmar.
— Não se preocupe! Hoje é sexta! Sexta não tem Educação Física, todo mundo vai para quadra e fica conversando...É o nosso dia de folga! — ele sorriu e mais um vez me perdi no seu olhar.
— Como assim, nosso dia de folga? —perguntei para tentar me recuperar melhor.
— Bem, pelo que você me falou você tem Educação Física agora, e eu também. Temos a mesma aula. E como eu estou aqui a mais tempo que você sei que nas sextas é dia de folga. — ele segurou na minha mão e começou a me puxar pelo corredor, a minha reação foi segui-lo sem falar um A.

Ao chegarmos na quadra de basquete todos estavam sentados no maior papo. Os professores no canto conversando na maior alegria. E foi aí que percebi que alguns alunos começaram a nos encarar. Oh, não! O Mark estava segurando na minha mão e todo mundo estava vendo ele segurar na minha mão! Ai, ai, ai! Fiquei sem saber o que fazer! Será que solto a mão dele? Ao tentar puxar a minha mão ele segurou mais forte, atravessou a quadra até chegarmos ao banco, onde ele apontou com a cabeça para que eu sentasse.
Sentei, e ainda sem falar nada, tentei ignorar os olhos que nos acompanhavam desde que chegamos na quadra. Foquei no que eu precisava falar com ele. Mas, no fundo estava feliz, pois eu não estava errada, o Mark esta SIM interessado em mim!
— Tá melhor agora Bê? — ele perguntou sem soltar a minha mão.
— Me acostumando melhor com a ideia, mas clamando a Deus para que o pessoal pare de encarar. — respondi com um sorriso. E na minha mente eu gritava que eu precisava dar uma chance a este sentimento novo! Que eu merecia ser feliz e ter uma chance de gostar de alguém e que este alguém gostasse de mim da mesma forma.
— Daqui uns minutos eles esquecem e voltam a atenção para outra conversa. A única pessoa que não vai parar de admirar você aqui sou eu.
— Eu sei que é cedo Bê, que nos conhecemos a menos de oito horas atrás, mas eu estou encantado com você! Você é linda, inteligente e engraçada. Os momentos que passei com você foram rápidos mais tão intensos que eu não queria que acabassem.
Tomei coragem e com a mão que estava livre segurei a mão dele que segurava a minha.
— Mark, eu também estou um pouco confusa. Eu não sei o que está acontecendo comigo hoje, parece que meu coração entrou em uma maratona que não acaba. Mas, é tudo muito novo para mim, eu nunca ouvi nenhum garoto me falar essas coisas. Então, eu não sei como reagir.
— Não? — um sorriso gigantesco tomou conta do seu rosto! — Que bom! Eu estava com medo de você ter alguém em Nova York.

— E ela tem viu! — ahhh, olha quem resolveu dar o ar da graça. Por favor, volte para buraco que você estava escondida, e só apareça mais tarde!
— Não! Não tenho ninguém em Nova York. — dei um sorriso de volta e dava para ver o alívio em seus olhos.
— Que bom! Então, promete para mim que você vai sair comigo amanhã? Podemos ir almoçar em um lugar bacana e depois caminhar no parque, andar de patins, sei lá... Eu só quero passar mais tempo com você. — ao terminar, ele levantou a minha mão e deu um leve beijo.
“Mas, não é possível! O quê que está acontecendo? Volta a matéria, porque eu não entendi a explicação. Isto não está acontecendo comigo! É mentira! Alguém me belisca pelo amor da sanidade pública! Foca, Bê! Foca a mente na resposta e para de viajar no barquinho perdido!”
— Não posso! — respondi antes de ele pensar que eu estava ficando doida.
— Não? — Ele perguntou com um ar de tristeza.
Ui! O menino ficou triste, é melhor eu me explicar antes que ele pense que eu estou dando um fora nele. Jamais! Imagina. Só se eu estivesse doida.
— Mark, eu não posso, mas eu quero muito te conhecer melhor! É porque eu tenho que ir para Nova York hoje. Eu faço parte do grupo de dança da minha igreja e tenho que estar lá para ensaiar. Mas, se você não se importar podemos tomar um sorvete depois do nosso treino na segunda...
— Treino? Você dança? Segunda, Terça, Quarta... não importa quando, só não demora muito, por favor. — Caí na risada antes mesmo dele terminar de falar.
— Sim treino! Você joga futebol Americano, certo?
— Certo. — ele respondeu com uma piscada que quase tirou a minha concentração.
— E eu vou correr para time da escola. E como a pista de correr é ao redor do campo de Futebol, vamos nos ver no treino.
— Isso não vai ser bom. — ele colocou a mão no queixo e bateu com os dedos.
— Não? — agora quem não entendeu a resposta fui eu.
— Claro que não, eu não vou conseguir prestar atenção no jogo com você correndo ao meu redor. — ele deu um sorriso de esperto e me deixou toda sem graça.
— E sim, eu danço desde os meus 5 anos de idade. — mudei de assusto antes de ficar roxa de vergonha.
— Uau, senhorita Bethânia a cada segundo que passo com você me encanto mais, será possível?” — ele me puxou pela cintura para mais perto dele e eu frisei. Não conseguia me mexer diante daquele olhar intenso.
“Oh não, ele vai me beijar! Não, não... ainda não! Mas, eu não vou conseguir impedí-lo. Mas, não é possível, cade a Bethânia forte que não se deixa levar pela influência dos outros. Cade ela agora quando se precisa desesperadamente de um comentário quebra gelo para dar uma esfriada no clima? Oh não, que olhar... vou quebrar minha promessa! Não acredito! Vou quebrar minha promessa! Mas, eu não vou dizer não, eu mereço alguém que goste de mim!”
— Mark? Mark? — a voz de um homem penetrou o campo de força que se formou entre nós.
— Sim, Senhor Thomas. — ele quebrou o olhar intenso ao olhar para o tal senhor Thomas, mas não soltou a minha cintura. A distância ainda estava boa, nada que fosse inconveniente para eu ter vergonha do senhor Thomas. Mas meu coração parecia divido entre alívio e tristeza do nosso momento ter sido interrompido.
— O seu pai esta lá fora te esperando. Ele me pediu para você sair mais cedo porque ele não pode se atrasar para o compromisso de vocês. — ele terminou de falar e saiu e eu percebi que ele ficou meio cismado com a nossa proximidade. Mas, saiu quieto sem falar nada, se fosse em Nova York iríamos levar um carão.
— Que pena que tenho que ir! Mas, segunda nos vemos certo? Quem sabe a gente continua de onde paramos? — ele deu um sorriso e veio em minha direção.
Me assustei, e o meu corpo deve ter reagido porque ele deu um beijo no meu rosto, balançou o cabeça e antes de sair sussurrou no meu ouvido.
— Não se preocupe! O nosso primeiro beijo vai ser especial! Jamais em uma quadra lotada de curiosos. Vai ser mágico e você nunca vai esquecer. — e assim ele saiu com aquele sorriso de galã de filme.
Eu fiquei ali muda, sem reação, sem ar e trêmula diante da afirmação que ele sussurrou no meu ouvido.



Capítulo
